Qual a diferença entre a Patrística e a Escolástica?

Qual a diferença entre a Patrística e a Escolástica?

A Tradição Apostólica é a transmissão da mensagem de Cristo, realizada desde as origens do cristianismo, mediante a pregação, o testemunho, as instituições, o culto, os escritos inspirados. Os Apóstolos transmitiram aos seus sucessores, os Bispos, e, através deles, a todas as gerações até ao fim dos tempos, tudo o que receberam de Cristo e aprenderam do Espírito Santo.
(Compêndio 12)

A patrística e a escolástica são dois importantes movimentos da teologia cristã que surgiram em momentos históricos diferentes e tiveram objetivos distintos. 

Patrística

A patrística surgiu nos primeiros séculos do cristianismo, aproximadamente entre os séculos II e VIII, e teve como objetivo a defesa e a difusão da doutrina cristã nascente.

Os escritores patrísticos, como Santo Agostinho, Santo Atanásio e São Jerônimo, utilizavam a filosofia grega e a retórica para explicar e interpretar as Escrituras e para responder às críticas e objeções dos adversários do cristianismo. Por exemplo, Santo Agostinho escreveu diversas obras defendendo a doutrina da Trindade e da graça divina, utilizando conceitos da filosofia grega para explicar a natureza de Deus e a relação entre a vontade divina e a vontade humana.

Escolástica

Já a escolástica surgiu durante a Idade Média, aproximadamente entre os séculos XI e XIV, e teve como objetivo a reconciliação da fé cristã com a razão e a filosofia clássica, especialmente a filosofia de Aristóteles. Os teólogos escolásticos, como São Tomás de Aquino, desenvolveram um método de investigação sistemático e rigoroso, conhecido como “dialética”, que buscava encontrar soluções para os problemas teológicos e filosóficos por meio de argumentos racionais.

Teologia

A influência da patrística e da escolástica na teologia cristã continua até os dias de hoje. A importância da tradição da Igreja e da interpretação dos Padres da Igreja e dos Doutores da Igreja para a compreensão da doutrina cristã é crucial para que estes movimentos tenham sentido. 

Em resumo, a patrística e a escolástica são dois movimentos importantes da teologia cristã que surgiram em períodos históricos diferentes e tiveram objetivos distintos. Enquanto a patrística enfatizava a defesa e a explicação da doutrina cristã por meio da filosofia grega, a escolástica buscava reconciliar a razão e a fé cristã por meio da filosofia aristotélica e do método dialético.

Aspecto Patrística Escolástica
Período c. séc. I–VIII (no Oriente, até séc. IX). c. séc. XI–XVI (auge sécs. XIII–XIV).
Contexto Formação e defesa da fé; concílios antigos; combate às primeiras heresias. Igreja consolidada; surgem universidades; sistematização da teologia.
Finalidade Transmitir a regula fidei, catequizar e guardar a ortodoxia. Ordenar e demonstrar racionalmente as verdades da fé (síntese fé-razão).
Método Exegese bíblica; homilias e catequeses; apologética; leitura espiritual da Tradição. Lectio, quaestio, disputatio; lógica e distinções; summae e comentários.
Fontes Escritura, Tradição viva, liturgia, magistério nascente, testemunho dos mártires. As mesmas fontes articuladas com filosofia clássica e método universitário.
Filosofia base Predomínio platônico/neoplatônico (com traços estoicos). Predomínio aristotélico; influências agostinianas em correntes franciscanas.
Fé × Razão Razão serva da fé; iluminação pela Revelação. Harmonia com distinção das ordens; razão prova preâmbulos da fé.
Gêneros Homilias, cartas, comentários, hagiografias, tratados breves. Quaestiones disputadas, summae, comentários às “Sentenças” e a Aristóteles.
Temas Trindade, Cristologia, graça/pecado, Igreja, sacramentos, vida monástica. Sacramentos (sistematização), virtudes/lei natural, analogia do ser, provas de Deus, moral dos atos.
Controvérsias Gnosticismo, arianismo, nestorianismo, monofisismo, donatismo, pelagianismo. Transubstanciação (IV Latrão), graça/liberdade, universais, pobreza evangélica etc.
Ambiente Igrejas locais, mosteiros, escolas catequéticas (Alexandria, Antioquia). Universidades (Paris, Oxford, Colônia, Pádua) e studia das Ordens.
Autores Irineu, Atanásio, Basílio, Gregório de Nazianzo, Agostinho, Jerônimo, Leão Magno, Crisóstomo, Gregório Magno. Anselmo, Pedro Lombardo, Alberto Magno, Tomás de Aquino, Boaventura, Duns Scotus, Ockham.
Obras Contra as Heresias, De Trinitate, Confissões, Cidade de Deus, homilias. Proslogion, Sentenças, Suma contra os Gentios, Suma Teológica, Itinerário da Mente a Deus.
Estilo Bíblico-pastoral, espiritual, parenético. Técnico-analítico, com definições e distinções precisas.
Forças Base do depósito da fé; fidelidade à Tradição; riqueza exegética e espiritual. Clareza conceitual; arquitetura científica da teologia; integração fé-razão.
Riscos Menor sistematização; variações regionais. Formalismo/abstração se descolada da Escritura e da vida espiritual.
No Magistério Referência constante aos Padres (p.ex., Dei Verbum). Valorização do tomismo (p.ex., Aeterni Patris; reafirmações em Fides et Ratio).
Uso hoje Catequese, espiritualidade, hermenêutica da Tradição. Ensino superior, teologia sistemática, filosofia cristã, apologética.

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Importante

Ambos os movimentos tiveram uma influência significativa na teologia cristã e continuam a ser estudados e debatidos pelos teólogos e estudiosos da fé até os dias de hoje. Mas, é importante destacar que o Catecismo da Igreja Católica ratificou o que foi discutido por estes movimentos e de fato foi reconhecido e aceito pela igreja em sua doutrina, fazendo parte da Santa Tradição.